sábado, 31 de julho de 2010

VITÓRIA! TOURADAS PROIBIDAS NA CATALUNHA !


O parlamento da CATALUNHA proibiu em 28/07/2010 as corridas de touros naquela região autônoma no nordeste da Espanha a partir de 1º de Janeiro de 2012.

Com 68 votos a favor, 55 contra e nove abstenções, o parlamento catalão aprovou a iniciativa legislativa popular, proposta por 180 000 cidadãos, que pediam a proibição das touradas, considerada uma das marcas culturais de Espanha.

A TOURADA é um espetáculo tradicional em Portugal, Espanha e França, bem como de alguns países da América Latina: México, Colômbia, Peru, Venezuela e Guatemala. O essencial do espetáculo consiste na lide de touros bravos através de técnicas conhecidas como arte tauromáquica.

A maior praça de touros do mundo é a "Plaza de Toros México" localizada na cidade do México e a maior praça europeia é a "Plaza de Toros de las Ventas", em Madri. Numa tourada, todos os touros têm pelo menos quatro anos de idade. Quando os touros lidados ainda não fizeram os 4 anos diz-se que é uma novilhada.

Grupos de defesa dos direitos animais abominam a prática da tourada, pois consideram-na um ato de crueldade sem justificação que não se insere dentro das tradições humanistas. Trata-se de uma prática bárbara e desprovida de respeito à vida; uma verdadeira aberração!
É realmente inacreditável e inaceitável que em pleno século XXI um "espetáculo" degradante de tortura continue a ser chamado de cultura ou tradição!

Finalmente a Catalunha provando estar a frente de tudo na Espanha, aprovou essa lei humanista tão importante, que esperamos sirva de exemplo e estímulo para os outros países que continuam com essa prática vergonhosa e terrível que causa tanto sofrimento aos pobres animais indefesos.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Tratados como “animais”?


Humanos são libertados de um campo de trabalho forçado, uma colheita de erva-mate no oeste catarinense, numa ação do ministério do trabalho. Os cortadores de erva-mate haviam sido alojados num chiqueiro, onde não havia instalação alguma que pudesse oferecer a eles conforto e bem-estar após um dia de trabalho. Eles não tinham carteira de trabalho, eram escravizados. Não tinham qualquer autonomia ou proteção para fazer com que as leis que regem os atos de prestação e contratação de serviços ou de trabalho fossem respeitadas.

A imprensa noticiou, com fotos, as condições do “alojamento” no qual se instalavam para cozinhar e dormir, nos seguintes termos: “tratados como animais”. Para um leitor desavisado, a tradução do que foi feito a esses trabalhadores parece justa: “tratados como animais”. O que isso significa? Que o tratamento de ser jogado, à noite e no horário de cozinhar a comida, num chiqueiro, rebaixa os humanos, porque somente com animais é que se pode fazer isso? Se alguém concluir pelo sim, está raciocinando sobre falsas premissas.

Primeiro, é preciso que se diga que os lugares nos quais os animais são confinados pela indústria da carne, laticínios e ovos não são dignos dos “animais”. Explico. Os animais são um tipo de ser que, ao nascerem, têm o suprimento cortado. Nascer, portanto, representa, para todas as espécies animais, uma ruptura dolorosa. Ela tem dois tons: por um lado, a dor de não ser mais nutrido e higienizado naturalmente pelo ambiente placentário. Por outro lado, a libertação que o rompimento do fornecimento de nutrientes representa, que constitui a base sobre a qual cada animal começa a formar seu espírito. Esse espírito ou mente responde agora, após o nascimento, pelo aprendizado do autoprovimento e da higiene específica, sem a qual não há saúde nem longevidade.

Enjaular, acorrentar, cercar um animal, não importa a espécie à qual ele pertença, representa, para ele, o pior tormento. Sem a liberdade de buscar com seu corpo e no seu próprio ritmo os meios dos quais seu organismo depende para manter-se saudável, o animal fica privado da autonomia prática, justamente aquela que lhe dá chance de formar a mente que acompanhará a manutenção de seu corpo até o momento da morte. Mas, para poder prover-se livremente, é preciso que o animal possa viver no ambiente propício à sua espécie.

Para poder ter saúde e alegria de viver, o animal precisa ter os meios para prover a limpeza diária do seu corpo. O corpo é a ponte que liga o ser vivo ao ambiente, recebendo deste a matéria alimentar da qual se nutre, e o religa a esse mesmo ambiente, quando excreta os resíduos após o aproveitamento. Se o que entra deve ser livre de contaminação, para que não se perca a saúde, o lugar onde se deposita a matéria excretada não pode ser o mesmo no qual se introduz a matéria alimentar. Se não houvesse distinção necessária, nosso tubo digestivo teria apenas uma das duas aberturas. Temos duas aberturas, e um espaço razoável separando-as, justamente para que não nos confundamos. Isso não é privilégio do corpo de um humano. Somos todos animais.

A produção de animais em escala industrial se faz levantando-se paredes ou instalando-se cercados, baias, currais, chiqueiros, gaiolas, nos quais centenas, milhares de animais são colocados juntos, porque mantê-los dispersos encareceria o preço do produto final ao qual sua vida foi destinada. Ao se proceder desse modo, tira-se do animal o ambiente natural no qual seu corpo e sua mente poderiam desenvolver-se e viver bem, cada espécie a seu próprio modo.

Uma das formas mais primárias de manter-se saudável é a higiene. Cada animal, seguindo os padrões de sua própria espécie, mantém uma atividade de auto-higienização diária, sem a qual seu corpo seria tomado por todo tipo de parasita ou bactéria. Ser animal significa ter a responsabilidade de limpar-se a todo momento. Cada espécie tem suas próprias estratégias de autoprestação desse serviço. Se tiramos de um animal a liberdade de prover a higiene de seu corpo a seu modo, tiramos dele parte da autonomia prática relativa aos cuidados de si. Quando privamos um animal disso, “deixamos de tratá-lo como a um animal”. Era esse o ponto ao qual eu queria chegar.

Ao indignar-se com os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores da empresa de produção de erva-mate, e ao traduzir a injustiça praticada contra eles, definindo-a como tratamento que se dispensa a animais, a imprensa erra, ao passar ao leitor a ideia de que animais, seja lá de quais espécies forem, podem ser alojados em chiqueiros, sem que isso cause indignação, como se fosse confortável para os animais serem forçados a viver no mesmo lugar onde defecam, a comer no mesmo ambiente onde defecam, a dormir no mesmo ambiente onde defecam, a descansar no mesmo ambiente onde defecam. O chiqueiro é a forma mais brutal de violência contra a mente dos porcos, porque eles, naturalmente, não comem no mesmo lugar onde defecam.

Tratar qualquer animal, não humano ou humano, como se “fosse um animal”, tirando dele tudo o que é necessário para que sua vida alcance o nível de bem-estar e do estar bem nela que sua espécie possibilita, é algo indigno do animal. Quem o faz tira de si a dignidade de ser aquele animal que entende o valor da liberdade física para prover-se a si e aos seus de modo limpo, salutar e prazeroso. Somos todos animais. E ninguém merece ser tratado de modo a que essa condição, a de termos um corpo do qual temos que cuidar com alegria e gratidão, pois é ele que permite que nos sintamos gratos por estarmos vivos, seja justamente a fonte de toda dor e sofrimento. Nem os porcos, galinhas, vacas, bezerros, nem os trabalhadores braçais merecem ser tratados como se seu corpo nada representasse para eles.

Os escravizados pela ervateira não foram tratados como animais. Animais precisam de liberdade para prover-se e cuidar de si. Eles sequer foram tratados como máquinas cortadeiras de erva-mate, porque estas, com certeza, ao final da jornada são higienizadas e mantidas, alojadas contra intempéries, têm o óleo trocado, as engrenagens lubrificadas. Eles foram tratados como coisas desprezíveis, descartáveis quando findasse a colheita da erva-mate. Nem os humanos, nem animais de qualquer outra espécie merecem ser considerados apenas em sua materialidade, como se fossem meros vivos-vazios, para uso e descarte alheio.

por Sônia T. Felipe